segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

A Nossa Arrogância

A bagagem de cada um
Uma lenda popular do Oriente conta que um jovem chegou à beira de um oásis junto a um povoado e aproximando-se de um velho perguntou-lhe:
- Que tipo de pessoas vive neste lugar?
O ancião perguntou então:
- E que tipo de pessoa vive no lugar de onde você vem?
- Um grupo de egoístas e malvados – replicou-lhe o rapaz –, estou satisfeito de ter saído de lá.
- A mesma coisa você haverá de encontrar por aqui – o velho replicou.
No mesmo dia, um outro jovem se acercou do oásis para beber água e vendo o ancião perguntou-lhe:  
- Que tipo de pessoas vive por aqui?
O velho respondeu com a mesma pergunta:
- Que tipo de pessoas vive no lugar de onde você vem?
O rapaz respondeu:
- Um magnífico grupo de pessoas amigas, honestas, hospitaleiras. Fiquei muito triste por ter de deixá-los.
- O mesmo encontrará por aqui – respondeu o ancião.
Um homem que havia escutado as duas conversas perguntou ao velho:
- Como é possível dar respostas tão diferentes à mesma pergunta?
Ao que o velho respondeu:
- Cada um carrega no seu coração o meio ambiente em que vive. Aquele que nada encontrou de bom nos lugares por onde passou não poderá encontrar outra coisa. Aquele que encontrou amigos ali também os encontrará aqui. Somos todos viajantes no tempo e o futuro de cada um de nós está escrito no passado, ou seja, cada um encontra na vida exatamente aquilo que traz dentro de si. O ambiente, o presente e o futuro, somos nós que criamos e isso só depende de nós mesmos.
(Autor desconhecido)

Este texto não é da nossa linhagem, ainda que existam ensinamentos parecidos dentro da tradição, foi lendo este texto que eu entendi uma situação que vivi.
Os praticantes de Qigong sabem que uma das consequências da prática prolongada é a abertura dos sentidos espirituais. As emoções tem cor, cheiro, temperatura, só que normalmente as pessoas não estão com a percepção aberta a isso. Cada sentimento tem um cheiro diferente, característico do seu órgão dominante, o mesmo acontece com as toxinas, mas o cheiro é desagradável.

No mês passado, saindo de um retiro de Kan e Li intermediário, no qual fizemos muitas purificações, eu só sentia cheiro espiritual agradável em todos os lugares. Comecei a estranhar porque normalmente as pessoas estão muito intoxicadas e não cheiram bem. Principalmente, após as purificações, quando ficamos muito sensíveis às toxinas, é difícil encontrar muitas pessoas com cheiro bom.

No caminho para casa, eu passei na frente de uma igreja e vi flores lindas lá dentro, longe de onde eu estava, mas imediatamente senti o cheiro delas e percebi que eu inconscientemente estava puxando para perto de mim só os cheiros agradáveis.

 Só agora lendo o texto eu percebi quão errada está a arrogância que nós, praticantes de Qigong, às vezes temos. Achamos que estamos limpos após as purificações e as pessoas que não fizeram as práticas vão nos machucar com suas toxinas, quando somos nós que puxamos essas toxinas com as nossas partes que não estão tão limpas.
Claro que as toxinas continuam nos machucando, mas precisamos ter consciência da nossa responsabilidade. Além de nos purificarmos internamente, também precisamos purificar nossa relação com o mundo. Só assim não subiremos no palanque da nossa arrogância para nos isolarmos achando que o inferno é o outro, como diria Sartre. O mesmo Sartre disse “Não importa o que fizeram com você. O que importa é o que você faz com aquilo que fizeram com você”. 


Essa arrogância não é restrita aos praticantes de Qigong, mas se nós buscamos no Qigong maior autoconhecimento para nos desenvolvermos espiritualmente, é essencial a atenção e o cuidado com a própria sombra, aquele lado da nossa personalidade que não é tão correto.

Acesse nosso site: www.taoismobrasil.com

Abração.

Li Hua - Maitê Gomes



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