A bagagem de cada um
Uma lenda popular do
Oriente conta que um jovem chegou à beira de um oásis junto a um povoado e
aproximando-se de um velho perguntou-lhe:
- Que tipo de pessoas
vive neste lugar?
O ancião perguntou então:
- E que tipo de pessoa
vive no lugar de onde você vem?
- Um grupo de egoístas e
malvados – replicou-lhe o rapaz –, estou satisfeito de ter saído de lá.
- A mesma coisa você
haverá de encontrar por aqui – o velho replicou.
No mesmo dia, um outro
jovem se acercou do oásis para beber água e vendo o ancião perguntou-lhe:
- Que tipo de pessoas
vive por aqui?
O velho respondeu com a
mesma pergunta:
- Que tipo de pessoas
vive no lugar de onde você vem?
O rapaz respondeu:
- Um magnífico grupo de
pessoas amigas, honestas, hospitaleiras. Fiquei muito triste por ter de
deixá-los.
- O mesmo encontrará por
aqui – respondeu o ancião.
Um homem que havia
escutado as duas conversas perguntou ao velho:
- Como é possível dar
respostas tão diferentes à mesma pergunta?
Ao que o velho respondeu:
- Cada um carrega no seu coração
o meio ambiente em que vive. Aquele que nada encontrou de bom nos lugares por
onde passou não poderá encontrar outra coisa. Aquele que encontrou amigos ali
também os encontrará aqui. Somos todos viajantes no tempo e o futuro de cada um
de nós está escrito no passado, ou seja, cada um encontra na vida exatamente
aquilo que traz dentro de si. O ambiente, o presente e o futuro, somos nós que
criamos e isso só depende de nós mesmos.
(Autor desconhecido)
Este texto não é da nossa
linhagem, ainda que existam ensinamentos parecidos dentro da tradição, foi
lendo este texto que eu entendi uma situação que vivi.
Os praticantes de Qigong
sabem que uma das consequências da prática prolongada é a abertura dos sentidos
espirituais. As emoções tem cor, cheiro, temperatura, só que normalmente as
pessoas não estão com a percepção aberta a isso. Cada sentimento tem um cheiro
diferente, característico do seu órgão dominante, o mesmo acontece com as
toxinas, mas o cheiro é desagradável.
No mês passado, saindo de
um retiro de Kan e Li intermediário, no qual fizemos muitas purificações, eu só
sentia cheiro espiritual agradável em todos os lugares. Comecei a estranhar
porque normalmente as pessoas estão muito intoxicadas e não cheiram bem.
Principalmente, após as purificações, quando ficamos muito sensíveis às
toxinas, é difícil encontrar muitas pessoas com cheiro bom.
No caminho para casa, eu
passei na frente de uma igreja e vi flores lindas lá dentro, longe de onde eu
estava, mas imediatamente senti o cheiro delas e percebi que eu
inconscientemente estava puxando para perto de mim só os cheiros agradáveis.
Só agora lendo o texto eu percebi quão errada
está a arrogância que nós, praticantes de Qigong, às vezes temos. Achamos que
estamos limpos após as purificações e as pessoas que não fizeram as práticas
vão nos machucar com suas toxinas, quando somos nós que puxamos essas toxinas
com as nossas partes que não estão tão limpas.
Claro que as toxinas continuam nos machucando, mas
precisamos ter consciência da nossa responsabilidade. Além de nos purificarmos
internamente, também precisamos purificar nossa relação com o mundo. Só assim
não subiremos no palanque da nossa arrogância para nos isolarmos achando que o
inferno é o outro, como diria Sartre. O mesmo Sartre disse “Não importa o que
fizeram com você. O que importa é o que você faz com aquilo que fizeram com
você”.
Essa arrogância não é
restrita aos praticantes de Qigong, mas se nós buscamos no Qigong maior autoconhecimento
para nos desenvolvermos espiritualmente, é essencial a atenção e o cuidado com
a própria sombra, aquele lado da nossa personalidade que não é tão correto.
Acesse nosso site: www.taoismobrasil.com
Abração.
Li Hua - Maitê Gomes
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