quinta-feira, 10 de abril de 2025

Bu Kai 不开 - O culto e comunhão com a Terra na linhagem de Kunlun

" A vida se nutre da vida, e tudo o que é vivo se defende." - tradição oral de Kunlun

Este é um dos princípios que deu origem ao conhecimento do Bu Kai dentro da linhagem ancestral de Kunlun: há uma necessidade de se adequar e se adaptar ao ambiente para que possamos minimizar os danos a nossa saúde pela alimentação e pelos micro-organismos do nosso ambiente próximo.

Para isso, o ser humano aprendeu como primeiro processo culinário, a Fermentação. Ao consumir alimentos fermentados  passamos a incorporar micro-organismos capazes de "desintegrar" os alimentos, facilitando sua digestão e sua absorverção. 

Esses organismos colonizam o nosso intestino e se tornam aliados do nosso corpo, também colonizam o ambiente da nossa casa e em menor grau ficam presentes no ar, no entanto, nem todos os micro-organismos são benéficos a nós, e é importante que o nosso corpo possa se adaptar e absorver os seres benéficos onde vivemos para que eles também contribuam com a nossa defesa, então há muitos ganhos em fermentar diversos alimentos em casa, e isso é muito comum no oriente, há inclusive fermentações de receitas de família e cultivo de probióticos que passam dos pais para os filhos, com o intuito de preservar a saúde, a força e auxiliar a evitar doenças. 

O processo de alimentação na humanidade vem se adaptando a milênios. Atualmente no entanto, a hiper sanitarização dos alimentos, a utilização dos agrotóxicos, e a presença do microplástico tem nos forçado a procurar outras formas de encontrar os micro-organismos que antes estavam mais facilmente nos alimentos. Estas mudanças têm tornado o nosso sistema mais frágil e vulnerável.

O Bu Kai Ordinário contem 7 princípios para comunhão com a força ancestral:

1 - Calendário - união com os ciclos cósmicos

2 - Hidratação - união com os fluxos da vida

3 - Fermentação - união com a força da vida

4 - Processamento - união com as transformações da vida

5 - Condimentações - união com a diversidade da vida

6 - Consumo - união com o respeito a vida

7 - Moderação - união com a contenção temporária da vida

Dentro desse estudo, nós aprendemos a defender a nossa saúde e a respirar com a natureza, entendendo que o nosso corpo é parte da vida do planeta e por isso, precisa se alinhar com diversos aspectos naturais que vieram desde a nossa ancestralidade quando o ser humano era coletor: basicamente se nutria do que a natureza tinha a oferecer e seu ambiente próximo, inclusive as ervas medicinais locais, urinava e defecava nutrindo de volta o solo do qual posteriormente também o nutriria, acordava com o Sol e a Lua, dançava e caçava na Lua Cheia, e estava em seu estado animal mais adaptado ao ambiente e a necessidade de cada um, podendo ser vegetariano ou carnívoro, e ser nômade ou mais estável se as condições do ambiente fossem favoráveis.

Outra grande mudança que foi desastrosa para o planeta foi a retirada de minerais como ouro e prata, entre outros, dos rios, que também possuiam um efeito de controle dos micro-organismos mais agressivos, fazendo a água com fermentações de animais e plantas serem atacadas por micro-organismos muito violentos de putrefação, não tendo nada para contê-los.

Os fangshi dentro da cultura do Bu Kai possuem lendas de um tempo de sobrevida próximo aos 400 a 600 anos, parando de comer e tomar água completamente em torno dos 80 anos, num ritual que chamamos de Bigu, e que faz parte dos nossos rituais iniciáticos, começamos com uma prática de 21 dias sem comida para amadurecer o cultivo da energia interna, que geralmente exige alguns anos de preparação para ser feito de forma segura e eficaz dentro do nosso sistema.

Hoje quase não é mais possível se viver como coletor, nem nas tribos indígenas, as doenças que antes ficariam restristas a um único ambiente viajam rapidamente pelo mundo, apesar disso, podemos trazer princípios para a nossa vida para honrar a nossa ancestralidade como: comer alimentos típicos da estação e evitar comer após o por do Sol diariamente se possível, se hidratar e tomar água fermentada dos grãos que se come ou fazer conservas dos alimentos frescos para que possa abosrver os micro-organismos que digerem este alimento melhorando assim a sua absorção.

Também é importante ter fermentados feitos em casa para ajudar a colonizar o ambiente onde se vive e absorver os micro-organismos da sua própria residência, ajudando assim a evitar alergias e se preparar melhor para as mudanças de estação, que primeiro são sentidas pelos micro-organismos (os espíritos da casa).

Temos os conhecimento de Bu Kai como uma forma profunda de culto dentro da nossa linhagem, e possuímos até um probiótico que come Mel e Chá Verde chamado de Jun (o fungo mágico).

Na antiguidade ele era feito com o mel alucinógeno das abelhas de Kunlun e do Himalaia, sendo também uma forma de entrar nos mundos espirituais. Mas mesmo ele feito com mel de abelhas sem DMT - a substância que nos faz sonhar e causa visões e delírios, tem seu poder para ajudar a nutrir e cuidar do corpo, é na realidade uma colônia que se assemelha ao Kombucha.

Bu Kai também sugere trazer os diferentes gostos e texturas para a alimentação, que se coma devagar para sentir o gosto prestando atenção e não comer com ansiedade, aprender a sentir o paladar e a mastigar bem os alimentos, entendendo que na nossa alimentação outro ser foi sacrificado, seja ele animal, vegetal ou mineral, somos predadores por natureza, ao respirarmos matamos milhares de seres, então, já que não é possível viver sem destruir, o mínimo é que o façamos com respeito e em honra aos que vieram antes de nós, com gratitude por poder saciar a própria fome para poder se sentir melhor. 

Muitas pessoas comem para fugir da realidade de forma enlouquecida, sem nem perceber os sabores, por isso exagerando na quantidade e não respeitando o próprio corpo e nem o próprio alimento.

Cultivar alimentos, colhê-los, prepará-los, consumí-los e armazená-los são fundamentos alquímicos, e todo mundo que cozinha é por natureza um feiticeiro.

Essa é a ciência do Bukai.

Que possamos todos estar nutridos.

Com carinho, 

Monge Tai Yin Yi



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